Protegendo-se da culpa - parte 1


Presbítero Heverton Agnelli
Roberto tinha tudo para ser o campeão daquela corrida Havia se preparado toda aquela temporada por aquele momento. Roberto nascera numa família pobre do Rio de Janeiro. A casa era pequena, e ele sentia vergonha das roupas rasgadas que possuía. Mas aos quinze anos, Roberto havia encontrado em seus pés a chave para seus problemas, percebeu que seu corpo fora feito para a velocidade. Corria como o vento. Esse dom havia dado um ingresso para os jogos olímpicos juniores. Se corresse bem, seus sonhos poderiam se realizar. Até que aconteceu um problema, ele começou a pensar em suas roupas velhas, e em sua condição pobre, que comparada aos demais competidores era uma lastima. Como ele poderia andar maltrapilho entre os melhores competidores do mundo?

Na noite anterior à partida para os teste, Roberto sentou-se abatido em sua cama e começou a arquitetar um plano que mudaria a sua vida. Era o plano perfeito, pelo menos aos seus olhos. Ele conhecia um velho senhor, dono de um mercadinho em seu bairro. Invadiu o mercadinho antes de ser aberto, se escondeu atrás da porta e esperou por seu Nivaldo. O plano era roubar um pouco de dinheiro do velho e comprar roupas novas. Mascarado ninguém saberia que foi ele, sem contar que a intenção era só desmaiar o velho homem. Seu Nivaldo se aproxima a passos lentos, abre a porta e por algum motivo, Roberto que estava escondido, fez um barulho que acabou sendo ouvido por seu Nivaldo, que se vira e acaba assustando a Roberto. Roberto não estava preparado para um confronto face a face. Estava tudo errado, e ele entrou em pânico. Golpeou a cabeça de seu Nivaldo e o deixou cair no chão. Em seguida, enfiou a mão em seu bolso e lhe roubou cento e quarenta reais, deixando o homem inconsciente. Naquela tarde Roberto estava à caminho dos jogos olímpicos juniores. Não sabia que seu Nivaldo fora levado de ambulância para o hospital e que morreria naquela mesma noite. No dia seguinte, ficou sabendo de tudo. Foi o inicio do seu pesadelo.

A atuação de Roberto nas seletivas foi uma decepção. A competição estava encerrada e era hora de voltar para casa.

De volta a seu bairro no Rio de Janeiro, Roberto tentou retomar a vida do ponto em que havia parado. Sempre foi muito querido na escola. Mas agora não estava nada bem , nada era como antes. Havia sempre o segredo que o isolava. Tinha que encarar: era um assassino inconfesso.

Sua atenção nas pistas acabou. As boas notas de antigamente despencaram. Não conseguia escapar do terrível caos mental, a não ser com o álcool, seu mais novo amigo. Roberto nunca teve o costume de beber, agora bebia, sempre que possível e tanto o quanto podia, procurando na bebida tentar esquecer o fato de ser culpado pela morte de Nivaldo.

De algum modo ele conseguiu terminar o ensino médio. Pensou que se tentasse tocar a vida, conseguiria um dia esquecer o que aconteceu. Namorou e se casou. Casamento este que durou três anos, terminando com um divórcio e deixando uma filha de dois anos de bom e mais nada. Sua esposa não entendia o humor pessimista e mórbido do marido. O que aconteceu com o antigo Roberto que ela amava? Finalmente, a esposa preencheu os papeis do divórcio, arrumou as coisas, pegou a filha e foi embora.

Roberto tinha poucas opções. Em pouco tempo voltou para a casa dos pais. Mas ele e o pai não se davam muito bem. Por isso, afundou-se ainda mais na bebida. Tentou então outras alternativas: mudar de cidade, novos empregos, novos começos. Quando um dia se depara no olhando no espelho, já havia se passsado muito tempo, agora ele tinha um rosto sombrio de trinta anos, não restara nada daquele atleta de quinze anos. Começou a vagar pelas ruas da cidade como um louco, dizendo palavras amargas a si mesmo. O assassinato, tanto anos atrás, estava nos arquivos da polícia, sem solução. Ninguém suspeitava da identidade do bandido, todos haviam esquecido. Todos, exceto ele. Roberto já não agüentava mais viver com aquela culpa, tentou se matar. Não teve coragem. Então tomou outra decisão mais assustadora do que o suicídio. Resolveu se entregar a policia. Era melhor do que continuar tentando viver com a culpa.
Para refletir:
Você também tem vivido prisioneiro da culpa? Tem se afastado de Deus, da obra, da igreja e das pessoas, porque a culpa tem sido um fardo?

Palavra do Poderoso Deus:
Não cale os seus pecado, confesse-os para que Deus lhe dê vitória (Sl 32.3-5).